Dois dias sem blogar…

Tornei-me um serial blogger e sinto falta quando não o faço, mas não posso reclamar, pois venho de dois dias de muitas emoções e realizações. Eu e colegas da Coface – daqui e do exterior – estávamos no Rio de Janeiro para concluir a aquisição da Seguradora Brasileira de Crédito à Exportação (SBCE). A SBCE tem 50% de participação de mercado e a Coface assumiu o controle, com 75% do capital e a gestão da empresa. Os demais sócios são Banco do Brasil e BNDES.

Back to the blog: o humor do mundo mudou ontem de novo e aqui no Brasil só se fala da crise. Lamentavelmente, tal falatório acontece fora de hora e pelas razões erradas. Acontece que a mídia (local e internacional), como de hábito, só reage, i.e. só fala em crise, quando as bolsas de valores – sempre elas – derretem. Aí, os motivos alegados para tal queda tornarem-se manchetes. Só que os sinais já estavam todos dados e ninguém ligava!

Para estragar o humor dos normais e excitar os masoquistas (e short sellers), destaco abaixo um pout-pourri de más notícias para reflexão de final de semana.

1. A UNCTAD fala de desacelaração econômica – mais um pitonisa do caos:

http://br.invertia.com/noticias/noticia.aspx?idNoticia=200809041505_AFP_77385244

2. As bolsas derretem porque (finalmente) enxergaram que o mundo estará em recessão:

http://br.invertia.com/noticias/noticia.aspx?idNoticia=200809051019_BBB_77387439

3. Nouriel Roubini, o Nostradamus econômico do século XXI, e meu guru, prova e comprova suas previsões:

http://www.rgemonitor.com/blog/roubini

4. A OCDE reforça que o mundo desenvolvido cresce abaixo do que devia:

http://www.oecd.org/dataoecd/0/51/41229145.pdf

Por aqui vai tudo bem, mas eu repito a ladainha:

1. Quando (e não se) e em que extensão seremos impactados pela desaceleração internacional?

2. E quão grave será a retração do crédito no Brasil quando a economia desacelerar, machucando os neo-endividados?

Abraços, FB

Prezados, acabo de dar uma entrevista na Bloomberg TV, que será retransmitida ao longo do dia.

Basicamente, eu informei que:

  • Há uma grande deterioração no crédito corporativo (empresa dando calote em empresa) nos EUA, o que não deveria ser surpresa para ninguém. Houve um pico no primeiro trimestre, mas ainda constatamos um aumento na inadimplência 110% pior do que 12 meses atrás.
  • A Europa caminha para um cenário de recessão e deterioração de crédito também.
  • Quanto ao Brasil, eu disse que acho que a situação econômica e de crédito no Brasil vai piorar consideravelmente em 2009.

Abaixo, eu divido com vocês uma breve análise do Professor Nourial Roubini, da NYU e da RGE Monitor:

The Perfect Storm of a Global Recession

 Nouriel Roubini | Aug 11, 2008

There is now an increasing probability that the global economy – not just the US – will experience a serious and protracted recession. Macro developments in the last few weeks suggest that now all of the G7 economies (the group of the major advanced economies including US, UK, Japan, Germany, France, Italy and Canada) are already in a recession or close to tipping into one. Other advanced economies or emerging markets (the rest of the Eurozone including Spain. Ireland the the other Euro members; New Zealand, Iceland, Estonia, Latvia and some other South-East Europe economies) are also on the tip of a recessionary hard landing.

And once this group of twenty plus economies enters into a recession there will be a sharp growth slowdown in the BRICs (Brazil, Russia, India and China) and other emerging market economies. The IMF defines a global recession as a global growth rate below 2.5% as emerging market economies usually grow much faster (6%) than advanced economies where growth averages about 2%. For example, a country like China – that even with a growth rate of 10% plus has officially thousands of riots and protests a year – needs to move 15 million poor rural farmers to the modern urban industrial sector with higher wages every year just to maintain the legitimacy of its regime; so for China a growth rate of 6% would be equivalent to a recessionary hard landing. It now looks like that, by the end of this year or early 2009, the global economy will enter a recession.

http://www.rgemonitor.com/roubini-monitor/253111/who_is_going_to_rescue_the_hundreds_of_busted_us_banks_dont_count_on_suckering_again_the_foreign_governments_the_sovereign_wealth_funds_and_the_biggest_fire_sale_in_the_history_of_humanity

O Professor N.Roubini, da NYU, é o economista mais crítico do modelo econômico que levou a economia americano ao seu pior estado, desde a depressão de 1929 – e com potencial para dragar o resto do mundo junto.

Há 5 anos ele vem dizendo que existe uma bolha e que a economia entraria em recessão, etc. Os seus críticos dizem que ele pregou isto por tanto tempo, que a sua “profecia se auto-realizou”.

O texto acima, porém, trata de uma profecia recente que, se virar realidade, colocará a América de joelhos: que tal centenas de bancos americanos quebrando, por conta dos prejuízos com a crise imobiliária? O prejuízo dos acionistas destes bancos seria o menor dos problemas.

A incapacidade destes bancos emprestarem aos seus clientes é que seria o mega drama! Vocês sabiam que o consumo americano representa 70% da demanda agregada? Muito alto! E o volume de empréstimos para as pessoas físicas é equivalente a 100% do PIB! Muito alto ao quadrado.

Como funcionaria uma economia com o perfil acima, se centenas de bancos parassem de emprestar? Esta é apergunta que não quer calar.

O link acima é leitura recomendada por Nostradamus, acreditem-me. 

Abs, Fernando

PS: a jornalista Cristiane Lucchesi, do Valor, escreveu uma ótima matéria sobre este tema na edição de hoje. Não incluo o link porque Valor tem ‘cadeado’ para não assinantes, mas sugiro que procurem o jornal impresso para ler a reportagem.