Tecnologia, certo? Não! Abaixo a tradução literal de uma notícia da Bloomberg:
“A combinação de empréstimos ao consumidor e empréstimos hipotecários, estruturados sob a forma de notas securitizadas, foi o produto mais exportado pelos EUA no século 21. Mais de USD 27 trilhões (duas vezes o PIB americano de 2008).
Segundo o Prêmio Nobel e Professor da Columbia University, Joseph Stiglitz, ‘Esta securitização foi baseada na hipótese de que um tolo nasce a cada 1 minuto. A globalização significou que existia um ambiente em que se podia procurar e encontrar esses tolos – e eles foram encontrados em todo lugar’.”
Outras curiosidades intessantes:
- Essas operações são/eram registradas/contabilizadas fora do balanço dos bancos e não consumiam capital regulatório. Portanto, o retorno sobre este capital era praticamente infinito. E dá-lhe bônus alto para os profissionais envolvidos nessas operações.
- O que Stiglitz chama de “tolos” são: prefeituras municipais, bancos municipais e regionais, pessoas físicas comuns, etc. Quer dizer, não foram gênios das finanças e especuladores vorazes que compraram tais papéis! Foi gente como a gente! Só que muitos não sabiam bem o que estavam comprando porque não compraram tais títulos do Bear Sterns ou do Lehman Brothers diretamente. Esse povo todo investia (e investe) em fundos mútuos convencionais, só que tais fundos continham os títulos ‘tóxicos’ que infestaram a indústria financeira no mundo todo.
- Um bom motivo para esse drama, voltando à ‘confissão de culpa’ do Greenspan, foi o baixíssimo nível das taxas de juros nos EUA e no mundo todo (salvo aqui e na Turquia). Com isso, os fundos mútuos e de pensão passaram a procurar outros ativos que dessem uma turbinada nos seus resultados. Acharam e se machucaram.
Não existe almoço grátis nesta vida (traduzido do inglês: “There is no free lunch”). Não existe negócio de alto retorno e baixo risco! Risco e retorno andam lado-a-lado, para cima e para baixo, desde o início dos tempos. Se este post servir para alguma coisa, que seja para nos relembrar desta verdade absoluta. Exemplos bem reais e nada financeiros:
- As perspectivas econômicas estão bem complicadas, aqui e no mundo todo, certo? Pois bem, o empresário que utilizar a sua liquidez para investir em fábrica, produto, marketing agora, correrá um belo risco se vier uma recessão forte pela frente. Mas também ganhará mercado e dinheiro se ela não vier e se os seus competidores se retraírem. Risco e retorno andarão juntinhos.
- Trocar um emprego onde você é bem visto, numa empresa que está sólida, por outro que paga mais, mas numa empresa que ainda não se provou, que tem apenas ‘perspectivas’ positivas. Taí: mais salário/bônus/benefícios e também mais risco da empresa não acontecer e/ou você não se adaptar.
Conclusão importante: eu não estou pregando que não se deve correr riscos. Longe disso. Quero sim é que todos conheçam com profundidade os riscos que estão correndo para que possam decidir com fundamento.
Mais tarde tem mais. Eu quero responder (até onde a minha competência chegar) a vários comentários/perguntas que venho recebendo de vocês. Prometo zerar a minha dívida logo. 🙂
Abraços,
Fernando
http://www.bloomberg.com/apps/news?pid=20601109&sid=a0jln3.CSS6c&refer=home
outubro 28, 2008 at 11:35 am
Já que você pretende responder as dúvidas, deixa eu lançar mais duas:
Um setor do qual eu tenho visto se falar pouco é o setor varejista de grande porte (Casas Bahia, p.e.). Fico pensando se os bancos, que têm acessos especiais a recursos financeiros (via BC), já estão nessa crise de liquidez, como fica esse setor, que na prática funciona quase como um banco, concedendo crédito, mas sem essas linhas especiais?
Outra dúvida: se o bem mais precioso no mercado hoje é dinheiro vivo, liquidez, qual o sentido de um banco com uma “sobra” em caixa usar esses recursos para recomprar suas próprias ações?
novembro 1, 2008 at 11:08 pm
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