Amigos – conforme bem noticiado, o Nouriel Roubini esteve em S.Paulo, em evento promovido pela BTG, empresa liderada pelo jovem bilionário e fera dos mercados André Esteves, ex-sócio do Pactual.

Leiam a boa reportagem da Folha de SP (por Sergio Malbergie) sobre a visita de Roubini. O resumo da ópera é que agora ele parece ter poucas dúvidas que o mundo entrará num tipo de depressão, que arrastará países menos expostos, como o Brasil, para uma recessão. Explico a visão dele:

  1. Os EUA, que representam 30% do PIB mundial – e uns 50% do consumo mundial (isso ninguém fala!) -, sofrem de “pneumonia” (palavras do Roubini).
  2. Se o americano não consome o mundo pára, porque não há porque produzir se o não há para quem vender.
  3. E os EUA só voltarão a consumir quando os bancos voltarem a financiar tais compras e quando o cidadão perder o medo de perder o emprego.
  4. Dois problemas e duas soluções, ambas nas mãos de Obama & Geithner: o pacote fiscal (que Krugman e outros acham que é pequeno) e o TALF (que é o TARP de Paulson com mais alguns adereços), que não saiu do lugar.
  5. A Europa do Leste está nocauteada e vai gerar prejuízos triolionários para a Europa rica, pois os bancos alemães, dentre outros, despejaram muito dinheiro por lá, e parte importante da indústria para lá se transferiu. E ninguém quer ajudar os emergentes (agora submergentes) europeus.
  6. A Europa rica, diga-se de passagem, se auto-nocateou. A “Velha Europa”, como me disse ontem uma cidadã francesa, durante um evento em que fui debatedor, é de um pessimismo “contagiante”. Some-se a isso o ‘pepino’ dos vizinhos orientais…Mon Dieu!
  7. O Japão, como de hábito, “fechou para balanço”. A população só poupa e a indústria que não quer investir.
  8. A Ásia toda, aliás, cresceu tanto nos últimos 20 anos porque tornou-se uma plataforma de exportação, seguindo justamente o modelo japonês dos anos 60 e 70. Só que o mundo parou de comprar e países ditos sólidos, como a Korea (do Sul, naturalmente), estão com sérios problemas (nós reclamos no nosso PIB industrial ter caído 17% em janeiro….o da Korea caiu 25%!).
  9. Sinais de deflação começam a pipocar e a política monetária não faz mais efeito algum (lá fora) – lembram-se de Economia de Depressão, de Paul Krugman?
  10. E sem os bancos para – em algum momento – apoiar a aceleração da economia, só restará aos governos fazerem política fiscal anti-ciclíca, patrocinando obras e mais obras.

Preparem-se para o PAC Global!

O Roubini era conhecido como Dr.Doom e agora deveria ser chamado de Dr.Reality

Abraços, F.

Amigos, este post é dedicado aos – e inspirado pelos – amigos da  Monitor Investimentos e do Armando Pinto, que havia nos enviado dois comentários bastante pertinentes.

1. Que crise é essa

# É uma Crise de Crédito, na origem e no seu desenrolar.

# A Crise se iniciou por conta de crédito mal dado, por excesso de confiança.

# A Crise se multiplicou por conta da toxidade da securitização e derivativos.

# A Crise se perpetuou por conta da falta de crédito, por desconfiança generalizada.

# Falar em crise econômica, crise financeira e outras menos cotadas é incorreto.

2. E a Crise de Confiança?

# Confiança não é algo que se discute tecnicamente, pois é emocional. Mas…

# Bancos e investidores perderam a confiança no proprio sistema.

# Empresas perderam a confiança na capacidade da economia reagir: não investem.

# As famílias perderam a confiança no emprego, então pararam de consumir.

# Bancos não emprestam por não confiarem na economia e em seus balanços

3. A visão dominante para a solução

A macroeconômia nos ensina que demanda agregada é Y = C + I + G + (X – M), onde:

  • C = Consumo das famílias, depende de confiança, crédito e renda
  • I = Investimentos da empresas, depende de confiança e crédito
  • G = Gastos e investimentos do governo, depende da política fiscal
  • (X – M) = Balança Comercial do país
  • X = Exportações, depende do câmbio, crédito e da demanda internacional
  • M = Importações, depende do câmbio, crédito e da demanda doméstica

# Como dá para notar, “C”, “I” e “X” sofrem por falta de confiança e de crédito. “M” estará comprometido por conta do dólar caro no Brasil e da recessão doméstica que está se instalando aos poucos – e graças a Deus!

# Isto posto, só o Governo (“G”)  tem força para fazer a economia ‘pegar no tranco’. É por isso que o Presidente Obama lutou muito para que seu pacote de USD 787 bilhões fosse aprovado (ele queria USD 825 bi). É por isso que, para o Presidente Lula, tudo é PAC. E até a China lançou um pacote – fajuto, segundo muitos – de mais de USD 500 bilhões em obras. Na China e no Brasil, todo e qualquer programa ou obra fica “batizado” de pacote de estímulo ao crescimento (o nosso tem nome, PAC, e até mãe, a Dona Dilma).

# O que os governantes se propõe a fazer é construir ou reformar tudo o que puderem, visando gerar empregos, para que as pessoas voltem a gastar. Só isto – e com uma forcinha de redução e devolução de impostos (estilo Bush) – é que fará as empresas voltarem a produzir. Note que, por estarmos em Economia de Depressão, baixar os juros não é suficiente para que as empresas voltem a investir ou as pessoas a consumir (pois o medo do desemprego é alto).

# Qual é a mágica? Para cobrir os imensos deficits fiscais que surgirão, os governos provavelmente cobrarão mais impostos de quem pode pagar, e desonerar quem está na pior. Tais deficits terão de ser cobertos por investimentos estrangeiros (e.g. da China, do Oriente Médio) em títulos do governo americano ou haverá impressão de moeda, com risco futuro de inflação.

O Brasil – temos um belo, e agora inútil, superavit primário, mas um mega deficit quando adicionamos os juros da dívida público. Se a recessão pegar firme no país e o governo quiser debela-la com gastos públicos, terá que reduzir os juros da dívida governamental (SELIC pra baixo ou calote parcial) ou imprimir reais. Nenhuma solução simples.

As obras do Pacote de Estímulo de Obama e do PAC de Lula visam:

  • Gerar emprego e renda para o trabalhador.
  • Recuperar a sua confiança no emprego e na capacidade de consumir.
  • Em função disto, a indústria retomará a sua confiança e investirá.
  • Em função de tudo isto, os bancos retomam a confiança na economia.

Mas…ainda falta limpar o sistema financeiro (Americano, pois o nosso está bem), para que este, além de retomar a confiança, tenha capital para voltar a emprestar. Mas isso fica para o próximo post, ok?!

Abraços e bom domingo a todos.

Fernando